O Baile da Fantasia

Numa tarde comum, andando sem destino pelo mesmo caminho que sempre me levava aos mesmos lugares, me deparei com um anúncio que me despertou grande interesse... Um baile à fantasia estava marcado para acontecer, e pelo que comentavam era certo que seria um grande evento.
Sempre fui discreta e sonhadora, nunca gostei muito de sair, principalmente de lugares cheios, mas algo dentro de mim me convidava a ir... A cidade não era grande, as pessoas não eram completamente estranhas, conheciam-se uns aos outros pelo sobrenome. Todos estavam eufóricos e bastante ansiosos para o dia da festa.
Os preparativos para o grande dia estavam chegando ao fim. Vesti a minha melhor fantasia, nem me reconheci ao olhar no espelho... A maquiagem nos olhos disfarçava a insegurança infantil de quem estava se abrindo para o mundo pela primeira vez.
Finalmente cheguei ao baile. Muitas pessoas de fora da cidade vieram para a festa, tinha tanta gente que fazia fila para entrar. A música era contagiante, parecia que estava em outro Universo... As luzes dançavam e as cores piscavam alternadamente em um movimento quase letárgico.
Em meio àquela multidão uma pessoa me chamou a atenção... Sua fantasia não era muito chamativa e ele parecia estar fora do ritmo, mais preocupado com a bebida em sua mão. Aproximei-me para ver se o conhecia e quando cheguei mais perto reconheci aquele meio sorriso tímido com olhos brilhantes. Era o meu melhor amigo, de outra cidade, que costumava passar as férias aqui. Conversamos um pouco e decidimos ir para um lugar mais calmo e lá passamos a noite bebendo, ouvindo música e reparando nas fantasias dos outros... O assunto não chegava ao fim, poderíamos passar a vida inteira daquele jeito divertido e descompromissado de ver a vida.
Já era quase dia quando fomos embora, ri tanto que só fui sentir o cansaço quando finalmente me deitei. Acordei com a maquiagem toda borrada e um semblante levemente risonho... Estava diferente, mas eu não sabia o como.
Tínhamos o costume de nos reunirmos nas férias no casarão da esquina, em frente a uma pracinha, para jogarmos conversa fora e passar o tempo. Chegando lá encontrei o príncipe do baile em traje casual e mais à vontade, apesar da cara amassada de quem queria dormir mais. Sentamos um ao lado do outro e continuamos naturalmente nossa conversa do ponto em que havíamos parado na noite anterior, dessa vez sem muito barulho... Descobrimos sutilmente que tínhamos uma afinidade sem limites... Os dias foram passando e à medida que as férias iam chegando ao fim meu coração apertava mais. Não queria que ele fosse embora... Mas ele se foi, com a promessa de que voltaria após alguns meses... Foi assim que minha espera começou, com a descoberta de um lado meu que encontrei com ele.
Os segundos pareciam durar horas e as horas se arrastavam pelo tempo, que ainda demoraria a trazê-lo de volta. Meus dias até podiam ser iguais, com os mesmos personagens, mas não demorou muito para que eu percebesse que posso contar a mesma história de maneiras diferentes... E assim os dias se passaram...
Eu teria esperado por ele para sempre, ou mais, se ele dissesse que estaria lá por mim também... Mas seu silêncio falou mais alto, e eu parei de esperá-lo quando finalmente descobri o Amor.
Às vezes a felicidade vem de onde menos se espera... Ele foi a aposta da minha vida, mas a sorte me trouxe de presente um bilhete premiado.
O que eu sinto por ele não morreu e nunca morrerá. Mas esse sentimento, que eu insisti em alimentar, se transformou dentro de mim. Não o vejo mais como antes, acredito que hoje eu o enxergue além da fantasia...
Às vezes a vida parece irônica. Eu passei grande parte da vida tentando fazer tudo certo na hora certa, tentando ser a princesa do baile... Passei anos me vestindo assim, e quando decidi tirar a maquiagem, sem medo de me mostrar por inteiro e sem querer esconder minhas cicatrizes, consegui pela primeira vez sentir a verdadeira beleza.
Enquanto eu o esperava, a Vida aconteceu. Agora eu posso enxergar tudo o que ela tem a oferecer e desfrutá-la sem a limitação de um personagem, sem a obrigação de acertar e sem o medo de ser feliz...

Luciana Mujalli